sábado, 10 de abril de 2010

Violoncelo


Ele já estava morto há muito tempo. Era apenas uma casca oca, para cobrir o vazio. Desde o dia em que a música o abandonara, não havia nenhum pedaço do seu ser que quisesse seguir em frente. Aquele som doce era tão difícil de ser lembrado... Onde estaria ele agora? Onde aquele som? Onde estava aquela pessoa?

Seus olhos azuis fitaram o violoncelo, inerte em seus braços.

Aquele violoncelo perdera sua alma, perdera sua magia, perdera seu brilho. Jazia agora como um corpo morto. Jazia como a música, usando um luxuoso vestido branco manchado de sangue, em seus braços. Aquele instrumento não podia mais lhe trazer melodia, o tempo já a engolira. Doces sons compartilhados... Doces sons esquecidos.

Olhando ao redor via como sua casa definhara junto de si. As paredes descascavam. Os antigos móveis cobertos por panos brancos. Mortalhas. A casa também estava morta. Tudo fora consumido ao seu redor. Tudo lhe fora tirado. Seu coração enegreceu-se. Contorceu-se diante do seu próprio vazio.

Não tinha mais nada.

Sua música, seu luxo, sua vida. E principalmente ela.

Tudo lhe deixara.

[...]

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